Saindo de Hanói em direção norte pode-se optar
por tres roteiros.
O que escolhemos vai pelo lado esquerdo do mapa (noroeste), em direção a fronteira com o Laos e depois subindo até Lao Cai, na
fronteira com a China e então retornando a Hanói.
Outro pelo lado nordeste, mais a direita no mapa
indo paralelo ao litoral até bem ao norte e também voltando a Hanói.
E um terceiro que seria a junção dos dois,
abrangendo quase todo o norte do Vietnã.
Escolhemos pelo lado noroeste pois dizem que é o
mais bonito, com mais cidades interessantes pelo caminho, além de ser o que a maioria
escolhe.
No nosso guia (Lonely Planet) eles descrevem
essa viagem como uma das “tops” no Vietnã, dizem que se for feita de moto então
é muito melhor, voce vai encontrar visuais de montanhas incríveis, cidadezinhas
bacanas e muitas tribos étnicas pelos vales e montanhas, além das estradas
serem pouco movimentadas e boas.
Chegam a exagerar e dizer que é “a viagem de
uma vez na vida” (traduzindo do ingles).
Já vou dizendo que não é bem assim, aliás, prá
mim tá longe de ser.
Sim, as estradas sobem e descem montanhas altas e
são pouco movimentadas.
Também é verdade que tem muita gente das minoritárias
tribos étnicas pelo caminho e achei legal que tem bastante lugar que
praticamente tem turismo zero.
Agora, as paisagens não são maravilhosas, talvez
num ou noutro lugar sejam bonitas, mas raramente.
As cidades do caminho, na minha opinião,
estão longe de serem legais, depois falo um pouquinho de cada uma.
E a estrada em
vários trechos está horrível, tornando alguns dias super cansativos.
Eh legal quando voce chega em locais onde ninguém
fala e nem entende uma palavra em ingles, mas quando isso se torna rotina acaba
é enchendo, pois até prá comer fica difícil.
Outra coisa importante é que apesar das
distancias entre as cidades serem curtas demora-se muito, primeiro porque as
estradas são perigosas e os vietnamitas são uns suicidas (sem exagero) então
dificilmente voce pilota a moto só curtindo o visual, etc..
Se voce não ficar
atento quase 100% do tempo acaba tendo um acidente.
E se tiver tá ferrado, não
existe socorro nenhum, pouquíssimos hospitais (que nem deveriam ser chamados de
hospitais) e ainda ouvi dizer que os vietnamitas não costumam ajudar os
acidentados. Cada um que se vire sozinho.
Bom, também é verdade que no nosso guia de
viagem eles sugerem que voce faça a viagem em uma turma, organizada por
agencias especializadas e com guias experientes.
Com certeza teria sido melhor.
Mas eu e a Cris (como vários outros fazem)
decidimos alugar uma motinho, pegar um mapa muito sem-vergonha e, só nós dois,
levando duas mochilas, nos mandarmos pela estrada.
A Sílvia, aproveitou que “se livrou” de nós por
uma semana e foi conhecer o destino turístico número 1 do Vietnã, Halong Bay.
Até gostou (foi num esquema de bacana), mas confirmou que o excesso de turismo
está estragando tudo.
Depois ela ainda pegou um trem e foi até Sapa (nos
encontramos por um dia lá) e de lá visitou Bac Ha onde todo domingo tem um
mercado famoso e colorido das minorias étnicas do norte do país.
Depois ela
voltou a Hanói e nos encontramos para seguirmos rumo sul.
As seis fotos a seguir são dela, as 3 primeiras de Halong Bay e as outras da feira de Bac Ha.
Voltando a nossa viagem, existem várias agencias
em Hanói que alugam motos e montam roteiros para diversos passeios, desde uns
mais curtos até outros bem longos, alguns pelas rotas tradicionais ou outros
pelas estradas alternativas, bem ao estilo off-road.
Agora confiar nos
vietnamitas é que é difícil, não estou dizendo que nenhuma agencia mereça
confiança, deve até existir uma ou outra séria. Mas é raro de se achar.
Por
isso que resolvemos ir por conta própria.
Fui numa agencia recomendada pelo recepcionista
do nosso hotel mesmo, escolhi uma moto pequena (tipo nossa honda biz), 125 cc,
pois além de ser mais barata (US 12/ dia), não costuma quebrar e se acontece
todo mundo conserta.
Não é ideal mas dá pra ir.
Aliás tem um brasileiro que foi
com uma honda biz do Brasil até o Alasca !
Desconfortável, freios ruins, motor fraco (com
duas pessoas então...) mas é verdade que aguenta tudo.
Se sai razoavelmente bem
no asfalto e se vira nas pedras e no barro (tivemos um pouco de tudo pelo
caminho).
- Primeiro dia 20/4. Hanói - Mai Chau, 140 kms
em 6 hs.
Eh isso mesmo, seis horas para percorrer somente
140 kms, aqui é assim.
Na estrada, quando tá boa vou até 60 km/h (nunca,
nenhuma vez, passei disso), já quando se passa por dentro de vilas ou cidades,
que são muitas, vou no máximo a 40.
Isso quando tá bom, mas na maioria das
vezes não tá, viajo então a 40-50 km/h e em vários trechos (acreditem) menos de
20 km/h !
Assim que saímos, ainda nem estávamos na estrada
e começou a chover, capinha de plástico de US 2, com cuidado pra não rasgar e
dois sacos plásticos fininhos nas mochilas.
Velocidade baixíssima e vamos
embora.
Estrada chata até distanciar bem de Hanói.
Chove, para um pouco, chove
de novo...
Nesse trajeto, numa serra, pegamos uma neblina muito forte e por vários quilometros, calculei uma visibilidade de menos de 20
metros, até que foi legal.
Molhados e com visibilidade baixa, mas super felizes. |
20 metros de visibilidade. Ou menos ? |
Mas na serra a moto mostrou-se fraquinha, para
passar um caminhão é um sufoco, muitas vezes até tinha que engatar
primeira-marcha.
Então chegamos em Mai Chau, foi uma das cidades
que ficamos que excepcionalmente achamos legal (só essa e Sapa), tem bastante
campo de arroz em volta, dando um certo charme.
O turismo fica por conta do
pessoal que vem pra se hospedar em casas das vilas de tribos étnicas.
Achei
assim, meio falso, as casas são é para os turistas mesmo, não são as casas
deles de verdade, mas vá lá, tem gente que gosta.
Alguns alugam bikes e dão
umas voltas pela região, é bonita, vale a pena.
Mai Chau. |
- Segundo dia 21/4. Mai Chau - Son La, 175 kms
em 5,5 hs.
Viagem meio frustrante, de interessante (mas não
muito), só uma cidade no caminho, Moc Chau, onde nos anos 70, com ajuda dos
australianos e do pessoal da UN (União das Nações), foi montada uma
indústria de leite e derivados (coisa rara por aqui), que abastece Hanói e boa
parte do Vietnã.
Uma, das várias ... |
... paradas de descanso. |
Placa do laticínio de Moc Chau. |
Sobre a cidade de Son La, nada de interessante.
- Terceiro dia 22/4. Son La - Dien Bien Phu, 165
kms em 6,5 hs.
Bastante montanha e campo de arroz, aliás essas
plantações de arroz rendem paisagens bem legais, tem cada tom de verde.
Vou seguindo com cuidado e mantendo velocidade
próxima de 40 km/h e máxima de 60.
Várias vezes tenho que sair da estrada pois
os caras ultrapassam quando querem, ninguém respeita nada, buzinam e
ultrapassam, pode ser em curva, subida, onde eles bem entenderem.
Até que surge um cruzamento e uma desgraçada de
uma vietnamita que ia na minha frente (na hora só tinhamos nós dois na
estrada), diminui a velocidade e vai para o meio da pista, quase parando,
lógico que eu imaginei que ela iria entrar a esquerda (pois foi para o meio da
pista), mas ela não deu pisca para lado nenhum.
Abri um pouco para a direita e a uns 30 ou 40
km/h fui ultrapassá-la quando ela acelera e vira para a direita, exatamente em cima de mim.
Nem brequei,
na pancada a moto dela girou e ela nem caiu.
Nossa moto caiu e arrastou um
pouco, a Cris, sei lá como, quando eu vi tava de pé e ilesa, eu fui arrastado
junto com a moto e ralei o ombro e cotovelo, só isso, nada grave.
Assumo meu
erro, tentar ultrapassar pela direita.Mas se ela queria virar a direita,
porque ao invés de simplesmente entrar, foi para o meio da pista dando todo o
indício que pretendia era entrar pra esquerda e vira na minha frente sem nem ao
menos olhar ?!
Regras vietnamitas no transito :
Sempre, sempre o maior tem a
preferencia.
E sempre, quem vai na frente faz o que quer, quem estiver atrás
tem que desviar, ninguém sequer olha no espelho, nem quando vão entrar em
alguma esquina, nem quando estão escostados na calçada e vão começar a acelerar
pra entrar no fluxo, nem para ultrapassar, nem nada.
A regra é : - Quem vem atrás que
se vire.
A maioria dos donos de motos retira os espelhos retrovisores !!
Não foi nada, só uns arranhões, mas erro grave
meu não estar devidamente equipado com proteções como jaqueta, luva, etc..
Ah, e a mulher.
Logo que eu levantei perguntei
se a Cris tava legal e fui em seguida ver se a mulher tinha se machucado, ela
me parecia bem e só apontou para o tornozelo.
Olhei com cuidado e não vi nada,
só que estava sujo (aliás, ela toda estava, rsrs).
Bom, daí fui levantar a moto
e ver se tinha algum estrago. Tudo certo, assim como eu, só uns arranhões.
Quando olhei de novo a mulher tava agachada e, achei que fingindo que doía o
tornozelo, e já veio uma outra, sei lá saída de onde, tirando satisfação comigo
e querendo grana.
A Cris me disse que viu as duas conversando e, muito provavelmente,
a “acidentada” falando pra outra tentar tirar uma grana minha.
Na hora fiquei
meio com pena, ela insistia que queria 500.000 (US 25) e dei 200.000 (US 10).
Depois me arrependi, devia era ter dado um “croque” nela, rsrsr.
Bom daí fomos embora, atenção triplicada e
velocidade reduzida (mais ainda !).
Ficava falando comigo mesmo: - Eu não
confio nesses vietnamitas, mas eles sempre me surpreendem. - Não confio neles.
- Não posso me esquecer. - Não confio neles.
E fui embora, meio “ressabiado”,
mas feliz por estarmos inteiros.
A cidade de Dien Bien Phu não é muito legal.
Tem
alguns atrativos como museu, monumentos, coisas de guerra, etc..
Aqui foi onde
finalmente (sei lá quando) os vietnamitas derrotaram os franceses e puseram fim
ao Império da Indochina que esses franceses folgados estavam dominando há muito
tempo.
Foi o começo do processo de independencia do Vietnã.
Nas vilas pelo caminho, sempre essas ... |
... estilosas mulheres de minorias étnicas pelas ruas. |
- Quarto dia 23/4. Dien Bien Phu - Muong Lay,
115 kms em 4,5 hs.
Cidade bem feia e estranha, foi relocada e
“modernizada”, antes ficava num vale que logo mais vai ser inundado pela
represa de uma hidrelétrica.
A nova cidade está nas margens dessa represa e
dizem que vai se esforçar para se tornar turística com atrações novas como
esportes aquáticos.
Sei lá, não me parece que vai dar certo.
O cemitério já está pronto para o alagamento. Covas vazias. |
O sol começou a "pegar", então parei no caminho e comprei essa camisa na beira da estrada, US 2, usada. |
- Quinto dia 24/4. Muong Lay - Lai Chau, 130 kms
em 6 hs.
Existe um caminho mais tradicional entre essas
duas cidades mas fomos por um caminho alternativo pois haviam me avisado que
pela estrada normal tava muito ruim.
O caminho que pegamos passa por Sin Ho, uma
vilazinha que no nosso guia estava escrito que valia muito a pena conhecer, mas
eu discordo totalmente.
Mercado de Sin Ho. |
Nesse trajeto tinham vários trechos muito ruins
mesmo, várias partes da estrada estão em construção no meio de grandes subidas
e descidas de serra, as vezes tava tão ruim, com tanta pedra solta, que eu
tinha que ir em primeira, por quilometros, um saco.
Isso porque me disseram que
esse caminho era o melhor, imagino o outro...
Olha a folga do búfalo, parece que é na lateral, mas não, ele está é no meio da estrada mesmo. |
Esses porcos, pelo menos tavam fora da estrada, no que deveria ser o acostamento. |
Pelo caminho tinham várias plantações de chá. |
Chegando em Lai Chau, impressionam as avenidas
largas, construções enormes do governo (sei lá o que são), vai entender, coisas
de comunistas.
A cidade mesmo não vale a visita, de jeito nenhum.
Lai Chau, a cidade é super pobre e no meio do nada, mas tem essa parte com esses prédios e essa avenida de 3 pistas (de cada lado), asfaltada, que não combina nem um pouco com a realidade daqui ... |
... essas construções de sedes do governo então. Nem sei o que são, mas tem várias como essa da foto. Pena que não tirei foto do restante da cidade, é de uma pobreza total. |
- Sexto dia 25/4. Lai Chau - Sapa, 70 kms em 3
hs.
Agora sim ! Trajeto curto, estrada boa, quase sem
movimento e que sobe uma serra bonita que rende uma bela vista.
Se
os outros dias tivessem sido como este tava bom demais.
Na subida da bela serra ... |
... descanso para a motinho ... |
... e para nós. |
Aí sim é curtição, uma
bela estrada com uma bela vista e ainda a agradável surpresa de se chegar em
Sapa.
Quase lá. |
Cidade bem turística e junto com Mai Chau as únicas que valem a pena se
conhecer nesse roteiro.
Sapa tem hotéis e restaurantes pra todo lado.
O pessoal
vem aqui mais pelos “trekkings”, que visitam outras vilas e tribos próximas.
Em
Sapa até vale passar uns dias, mas é a única bem legal do roteiro.
Mai Chau só é um
pouquinho melhor que as restantes mas não vale a pena ficar muito por lá.
Igreja católica em Sapa. O Vietnã, tem a segunda maior concentração de católicos na Asia (depois das Filipinas), perto de 10% da população. Acho que por causa dos colonizadores franceses (?). |
Mulheres de tribos étnicas, descansando num banco de praça em Sapa. Aqui tem muitas delas e são famosas pela insistencia na venda de seus produtos. |
- Sétimo dia 26/4. Sapa - Lao Cai, 35 kms em 1,5
hs.
Lao Cai fica na divisa com a China e é onde se
pega o trem de volta para Hanói.
A cidade mesmo não vale a visita e me pareceu super bagunçada.
No curto caminho até aqui, apesar de mais
movimento na estrada, tem umas belas vistas de montanhas e campos de arroz.
Tivemos sorte do tempo estar aberto, nessa região chove bastante e quase sempre
tem muita névoa.
Aqui acaba nossa viagem de moto.
Sem ter furado
sequer um pneu, mas com um novo arranhão numa das laterais (já tinham vários), agora ela vai de
trem (US 30) de volta pra Hanói.
Nós também, dividimos com dois holandeses uma cabine com beliches
para quatro pessoas, com ar condicionado por US 40/ cada.
Dez horas de viagem
durante a noite, dá pra dormir numa boa.
Daria pra ter voltado a Hanói de moto, mas não
compensa, pois não tem nada de interessante pelo caminho e o trajeto direto
leva uns dois dias inteiros e é por uma “highway” com transito e perigosos vietnamitas
dirigindo.
Com essa viagem aprendi que não vou mais fazer a
Cris correr risco de viajar de moto.
Andar de moto em alguns lugares aqui pela
Asia é quase que obrigatório, então tudo bem, com muito cuidado.
Agora se eu
quiser viajar que eu vá sozinho e arrisque só a mim mesmo, e além disso viajar
de moto é legal mas só pra quem tá pilotando, o garupa fica é de saco cheio e
ainda atrapalha a pilotagem.
Aprendi também a não confiar muito nas dicas dos
guias de viagem, tem que “filtrar” bem os excessos de animação do pessoal que escreve.
Não me importo de passar sufoco para comer,
dormir, pedir informações, etc..
Só que nessa viagem isso durou muito, na
maioria dos lugares que passamos foi raro achar alguém que falasse ingles.
E, além das cidades serem bem feias e caídas (exceção de Sapa e Mai Chau)
não tem quase estrutura turística, nem básica.
Gostei bastante de ver os costumes do povo das
montanhas, seus estilos de vida, etc..
E mais que tudo gostei de confirmar que
apesar de as vezes ter que passar por experiencias meio frustrantes elas sempre
vão ser lembradas e usadas como um tipo de sabedoria que faz com que nosso futuro
tenha menos erros e mais diversão.
No final, não recomendo essa viagem, mas como
iria saber se não tivesse feito ?
Resumindo, foram 830 kms que logicamente tiveram
seus momentos legais, mas foram poucos, a viagem toda eu considero uma
“roubada”.
O que posso recomendar a quem estiver em Hanói e
quiser conhecer o norte do Vietnã é passar um dia em Mai Chau e dedicar alguns
dias a Sapa e arredores e só.
Mais fotos :
Na beira da estrada vimos esse cara passeando com os patos, mas o mais legal foi ... |
... ver a cara de felicidade dele quando pedi permissão para tirar as fotos. |
Café vietnamita, é feito com uma técnica diferente, e eu acho delicioso. Eles gostam de tomar acompanhado de sementes de girassol. Nós também. |
As guerras passaram por aqui e deixaram muito estrago, mas também deixaram caminhões ... |
... e outras viaturas ... |
... que são usadas até hoje. |
Campos de arroz. |
Esse treco preso na cara do búfalo não é, como pode parecer, para por comida pra ele durante o horário de trabalho. Eh exatamente pra ele não conseguir comer no horário de trabalho. |
Carregamento de porcos vivos. |
Essa foto mostra um grupo de turistas desavisados e tranquilos saindo de um hotel em Sapa, mas eles nem desconfiávam que ... |
... as terríveis mulheres de preto, já estavam preparando o bote ... |
... e grudaram neles, com suas técnicas quase infalíveis de venda por encheção de saco ao extremo, hahaha. |
Essas quatro meninas estão descendo a rua todas sorridentes, mas ... |
... nem imaginavam que um grupo de ataque já tinha se formado atrás delas e estava chegando com tudo, hahaha. |
Mais campos de arroz. |
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