De Yangon,
pegamos um voo (US 116/cada) de uma hora e pouco e chegamos em Heho, é a cidade
com aeroporto mais próxima do Lago Inle.
Daí pegamos um táxi, US 30, uma hora
de viagem e chegamos em Nyaungshwe.
A maioria dos turistas se hospeda aqui.
Estamos a menos de 30 minutos, de barco, do lago.
Quem
preferir pode se hospedar na beira do lago, mas além de ficar meio isolado as
diárias são de 200 ou mais dólares.
Outra opção,
que segundo um casal de portugueses que conhecemos aqui é a melhor, seria ao
invés de vir diretamente pra cá, de Heho pegar o táxi prá Kalaw e vir
caminhando por 2 dias, num trekking que foi “a melhor viagem da vida deles”,
realmente deve ser demais, voce passa por paisagens incríveis e vilinhas
ancestrais, nosso guia (lonely planet) fala que é até mais legal esse trekking
do que o passeio pelo próprio lago. Bom, não fizemos mas fica a dica se alguém
vier.
Dá pra
economizar essa passagem de avião também e vir de onibus que é bem baratinho,
mas demora umas 15 horas.
Em
Nyaungshwe, ficamos no Nan Da Wunn Hotel, US 30 a diária, é simples, mas tem
seu charme pois é bem antigo e agradável. Mas o melhor mesmo são os
funcionários, super educados e tentando agradar em tempo integral.
Nosso hotel. |
A
cidadezinha é super rústica, como tudo por aqui, mas muito legal, tem vários
hotéis e restaurantes/barzinhos bem agradáveis.
Barzinho rústico e de bom gosto. |
Agora tenho
um bom exemplo pra voces entenderem como viajar por aqui é voltar no tempo: -
Quando fomos comprar a passagem, tem um site da companhia aérea, mas só dá para fazer a reserva.
Daí é preciso ir na agencia e pagar, somente em dinheiro
vivo, e uma funcionária preenche seu bilhete à mão.
Chegando no aeroporto,
antes do check-in, até passam sua bagagem e voce por um raio-x, mas não olham
nada (aquilo de líquidos, objetos proibidos no voo, etc., ninguém confere) e se
apita no raio-x, tudo bem, pode passar.
Chegando no balcão, voce mostra a
passagem e se for pesar a bagagem usam uma balança antiga de ponteiro, daí eles
colam um adesivo em voce e pedem que espere, num salão que nem ar condicionado
tem (atrasos são normais, o nosso foi só de 1,5 hora).
Quando chega a hora do
seu voo, um funcionário levanta uma plaquinha e fica chamando todo mundo.
Ali,
no salão de espera 99% são turistas estrangeiros (como os birmaneses teriam
dinheiro pra viajar de avião ?) e esse esquema todo é uma diversão, todo mundo
tirando foto e curtindo.
Olhem a balança vermelha atrás do cara. |
Voltando ao
Lago, assim que chegamos (já de noite) a Cris pediu pra uma funcionária do
hotel ligar num telefone de uma guia que estava muito bem recomendada no site
“trip advisor”, combinaram de no dia seguinte as 9 h nos encontrarmos e
veríamos o que fazer.
Dá pra ir visitar o Lago e arredores sem guia, mas voce
perde muito, pois não vai nos melhores lugares, não consegue se comunicar
direito com o barqueiro e também não ajuda um birmanes(a) que “rala” muito pra
sobreviver.
Acertamos em
cheio, conhecemos a simpaticíssima Phyu Phyu, que depois de combinar um tour
completo pelo Lago para o dia seguinte por US 30 (15 do barqueiro e 15 dela,
ela não é guia oficial, os oficiais custam 25 a 30) perguntou o que iríamos
fazer naquele dia.
Falamos que alugaríamos umas bicicletas e iríamos passear
pela vila e redondezas.
Ela perguntou se poderia ir junto, pois poderia nos
levar nuns lugares legais.
- É, mas quanto voce vai cobrar ?
E ela : -
Nada eu só quero passear com voces.
Como ela não
tem nem bicicleta aluguei 3 por US 1 cada e lá fomos nós.
Que sorte pois fomos
em uma vilazinha próxima (onde turistas não vão) e ela nos levava dentro da
casa das pessoas, nos explicava, traduzia algo que queríamos saber, etc..
Vimos
“fábrica” de bolo, de tofu, de torrefação de sementes, enfim a vida real dos
pobres birmaneses.
O bolo sai bem macio e gostoso, mas depois eles fazem torrada, pois dura mais tempo e eles acham mais gostoso. Comer antes de torrar eles falam que faz mal pro estomago, rsrsr. |
Fazendo tofu. |
Tofu seco é uma delícia. |
Torrando grãos. Tem soja, amendoim, fava e semente de girassol. |
No caminho
de repente apareceram uns 10 caminhõezinhos, cheios de gente e, cada um com um
menino de 5/6 anos todo vestido de “reizinho”.
É uma data bem importante pra
eles quando a família vai apresentar o filho no mosteiro budista.
O menino fica
a princípio 7 dias e se gostar continua (sim, ele decide).
É esperado que todo
menino birmanes passe a temporada monástica duas vezes na sua vida, a primeira
entre 5 e 15 anos e a segunda logo após os 20.
É um orgulho pra família ter um
menino no mosteiro.
Mulheres são raras, mas existem.
Pena que não dá pra ver o menino, ele está ali no meio de todo mundo. |
Voltando à nossa
guia, a Piu Piu, não é que ela fale um ingles perfeito e muito menos nós, mas
nos entendemos muito bem.
No fim já
estavamos até ouvindo “confidencias” da Piu Piu.
Eu chamava ela assim, pois é
bem próximo do som do nome dela.
E ela não consegue falar nossos nomes de jeito
nenhum, o da Cris até sai algo parecido, mas o meu nem pensar.
A simpatia
dela (e também sua triste história familiar) nos contagiou.
Cris e Piu Piu, esperando o barqueiro encostar. Saímos por esse canal, dentro da vila de Nyaungshwe e em 20 minutos chegamos ao Inle Lake. |
Depois do
tour pelo lago ela convidou a Cris pra uma massagem (de graça), esse é o
verdadeiro “negócio” da familia dela.
Perguntamos sobre algum lugar pra lavar
nossas roupas e ela disse que a irmã podia lavar (quando fomos buscar, não
deixou pagarmos de jeito nenhum).
E ainda, o melhor de tudo, nos convidou pra
almoçarmos na casa dela no dia seguinte. Na hora combinada a família estava nos
esperando (ela teve um trabalho de última hora e não pode chegar), o pai nos
recebeu (fora ela, ele é o único que fala um pouco de ingles), almoçamos,
agradecemos e quando íamos embora a irmã veio e me entregou um pacotinho.
Eu tinha
comentado com ela que uma das minhas irmãs era muito simpatizante do budismo,
etc..
Ela separou uma imagenzinha de Buda da casa dela que, deve ser muito antiga e deve
ter seu valor e mandou a irmã me entregar.
Flávia, vai demorar... Mas eu levo.
Piu Piu,
nunca mais vamos nos esquecer de voce !!
O tamanho dela é inversamente proporcional à simpatia. |
Sobre o
passeio pelo Inle Lake, durou quase o dia todo.
Quanta pobreza, quanta coisa
diferente, quanta curiosidade, quanta Beleza !!
Aquele povo
que vive no lago (não em ilhas, é dentro do lago mesmo), é tão bem adaptado que
se um dia o mundo for inundado (lembram do filme Waterworld, com Kevin
Costner), pra eles não muda nada.
Até fazendas flutuantes, por exemplo com
plantações de tomates, eles fazem.
Plantação de tomates no meio do lago, tudo está boiando, com umas estacas prendendo no fundo. |
Casinha no lago, não estou mostrando as mais simples. |
Essa então era de luxo. |
O que
faltava de turista em Yangon, aqui tem de sobra.
Claro que para os padrões do
Mianmar, mas tem muito e me faz pensar que um dia, em pouco tempo, isso tudo
vai acabar.
Quer dizer, vai mudar, mas as tradições milenares vão se acabando,
é o preço da modernização e da abertura para o turismo.
O que fazer ??
Por exemplo
: - A pesca no lago, que até há somente 3 anos era feita com um homem só numa
canoinha super leve onde ele vai de pé, remando com a perna (eu nunca tinha
imaginado isso, é bem legal) e fica com as mãos livres pra enfiar um cesto
grande na agua e arpoar o peixe que ficar preso.
Isso já acabou, agora eles já
tem umas redes.
Mas logo na entrada do lago, ficam uma meia dúzia de coitados
lá fingindo que pescam como antes só pra turistada tirar fotos (incluindo eu,
besta também), que pena que dá !
Mas é assim mesmo né ? O peixe tá acabando e,
principalmente os turistas estão chegando com o altíssimo poder da grana...
Não quero
ser chato nem idealista ou moralista.
Eu
estou adorando isso aqui, é exatamente o tipo de viagem que gosto de fazer.
Mas
as vezes dá uma tristeza...
Se eu
tivesse esse poder eu juntaria todos os turistas e diria : - Pessoal, vamos
embora enquanto ainda dá tempo. Ninguém mais pode vir. Deixemos eles com sua
pobreza digna.
Mas a vida
real não é assim né, então vamos curtir e venham enquanto ainda é possível ver
o que estamos vendo.
Pescador falso. |
Pescador verdadeiro. |
Nós chegamos
aqui de noite e sem reserva de hotel.
Até aí tudo bem já fizemos isso muitas
vezes, mas é que quando tentamos reservar algo de Yangon, não deu tava tudo
cheio.
Viemos do mesmo jeito e depois de quase uma hora no “taxi” (não era um
taxi oficial e ele não falava ingles, claro), tentando pedir pro motorista nos
arrumar um hotel, acho que ele entendeu, deu um telefonema e nos deixou na
porta do hotel.
Ele era bem mal encarado e dava umas cuspidas e tal, retrucava
umas palavras que achavamos que deveria estar xingando.
Mas gentilmente nos
conseguiu hotel.
Dentro do preço que queríamos.
E ainda disse (através do funcionario
do hotel) que poderia procurar outro hotel no dia seguinte pois aqui só tinham
vaga pra uma noite (depois conseguiram vaga).
Cordialidade, sem esperar dinheiro em troca.
Como é bom poder confiar
nos outros sem nem falar a mesma língua, não é mesmo ?
Fomos também
num mosteiro bem rústico conhecer um pouco da vida dos monges, esses eram muito
pobres.
Quando chegamos (só nós dois),
um mongezinho de uns 7 anos fez sinal que podíamos entrar, lá dentro um monge
já de bastante idade fez sinal pra nos sentarmos (no chão claro, lá não tem
móveis) e serviu um chá e uma banana pra cada um. Tentamos conversar, mas não
deu.
Só entendi que eram 3 monges mais velhos e 21 meninos pequenos.
Todos
morando numa casona bem velha e mal cuidada.
Alí acredito que os meninos
aprendem a respeitar uns aos outros, respeitar o Budismo e seus ensinamentos e
ter decencia.
Precisa mais que isso ?
O mosteiro. |
É praticamente um ambiente só, enorme. Onde os meninos aprendem, rezam, comem, brincam e dormem. |
Mais fotos :
Teatro de marionetes (US 3/pessoa). No passado era uma tradicional diversão dos birmaneses... |
... agora é só pra turistas. O show era horrível. Fraquíssimo, deu até dó do "artista". |
Olha o estilo da remada. Técnica e equilíbrio. |
Fabricação de tecidos no Lago Inle, teares manuais, como antigamente. O salário é por volta de US 70 dolares por mes. |
Em que ano estamos mesmo ? |
1960 ? |
Muito boa essa cerva. |
Inle Lake, paisagens... |
... pra fotógrafo nenhum... |
... botar defeito. |
Veneza - Itália ? |
Não, Nyaungshwe - Mianmar ! |
Eu ficaria
muito mais tempo.
Mas agora rumo a Bagan e seus milhares de templos de mais de
800 anos.
Olá, Rodrigo.
ResponderExcluirEu e meu marido viajamos 30 dias pela Ásia, entre Tailândia, Laos e Mianmar.
Por sorte, li o post dias antes de viajar e não tivemos dúvidas em ligar para a Phyu Phyu.
Estou aqui para agradecer à vocês. Que dia incrível tivemos! Foi emocionante. É difícil explicar, mas o birmanes conserva uma ingenuidade e generosidade que ainda nao tínhamos provado.
Desejamos uma excelente viagem, e continuem nos contando um pouquinho desse mundão :)
Abraços,
Rebeka e João
Oi Rebeka,
Excluirfico contente em ter ajudado.
Somos uns "sortudos" por termos essas oportunidades, não ?
Ler deve dar uma boa noção de como são as coisas, mas ir conhecer ao vivo com voces e nós, é perfeito.
Agora estamos no Laos, não são como os birmaneses, mas são bem melhores (decentes) do que a maioria dos povos que conhecemos. Voces devem ter reparado.
Abraços a voce e João.
ola Rodrigo,
ResponderExcluircaí aqui no teu post por acaso, e sem dúvidas foi um achado. Estou indo para Mianmar em dezembro/janeiro e gostaria muito de ter o contato da guia em Inle Lake, a Phyu Phyu. Vc pode me passar?
Abs e muito obrigada.
Oi. Me desculpe, procurei o contato dela , mas não consigo encontrar. Talvez pelo nome lá no seu hotel eles saibam quem é. Me lembro que a casa dela, junto com o pai (um professor de inglês aposentado ) ficava na rua principal da cidade próxima ao rio. Agora já se passaram dois anos e nem sei se ela ainda é guia. Lembro dela comentar que por não ser guia oficial estava com medo de proibirem o trabalho dela. ....Bom, desejo a vc uma ótima viagem. O Mianmar está na nossa memória como o país com as melhores pessoas que já conhecemos. Abs
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