sexta-feira, 15 de novembro de 2013

INLE LAKE - MIANMAR

De Yangon, pegamos um voo (US 116/cada) de uma hora e pouco e chegamos em Heho, é a cidade com aeroporto mais próxima do Lago Inle.
Daí pegamos um táxi, US 30, uma hora de viagem e chegamos em Nyaungshwe.
A maioria dos turistas se hospeda aqui. 
Estamos a menos de 30 minutos, de barco, do lago.

Quem preferir pode se hospedar na beira do lago, mas além de ficar meio isolado as diárias são de 200 ou mais dólares.

Outra opção, que segundo um casal de portugueses que conhecemos aqui é a melhor, seria ao invés de vir diretamente pra cá, de Heho pegar o táxi prá Kalaw e vir caminhando por 2 dias, num trekking que foi “a melhor viagem da vida deles”, realmente deve ser demais, voce passa por paisagens incríveis e vilinhas ancestrais, nosso guia (lonely planet) fala que é até mais legal esse trekking do que o passeio pelo próprio lago. Bom, não fizemos mas fica a dica se alguém vier.

Dá pra economizar essa passagem de avião também e vir de onibus que é bem baratinho, mas demora umas 15 horas.

Em Nyaungshwe, ficamos no Nan Da Wunn Hotel, US 30 a diária, é simples, mas tem seu charme pois é bem antigo e agradável. Mas o melhor mesmo são os funcionários, super educados e tentando agradar em tempo integral.




Nosso hotel.


A cidadezinha é super rústica, como tudo por aqui, mas muito legal, tem vários hotéis e restaurantes/barzinhos bem agradáveis.




Barzinho rústico e de bom gosto.


Agora tenho um bom exemplo pra voces entenderem como viajar por aqui é voltar no tempo: - Quando fomos comprar a passagem, tem um site da companhia aérea, mas só dá para fazer a reserva.
Daí é preciso ir na agencia e pagar, somente em dinheiro vivo, e uma funcionária preenche seu bilhete à mão. 
Chegando no aeroporto, antes do check-in, até passam sua bagagem e voce por um raio-x, mas não olham nada (aquilo de líquidos, objetos proibidos no voo, etc., ninguém confere) e se apita no raio-x, tudo bem, pode passar.
Chegando no balcão, voce mostra a passagem e se for pesar a bagagem usam uma balança antiga de ponteiro, daí eles colam um adesivo em voce e pedem que espere, num salão que nem ar condicionado tem (atrasos são normais, o nosso foi só de 1,5 hora).
Quando chega a hora do seu voo, um funcionário levanta uma plaquinha e fica chamando todo mundo.
Ali, no salão de espera 99% são turistas estrangeiros (como os birmaneses teriam dinheiro pra viajar de avião ?) e esse esquema todo é uma diversão, todo mundo tirando foto e curtindo.




Olhem a balança vermelha atrás do cara.


Voltando ao Lago, assim que chegamos (já de noite) a Cris pediu pra uma funcionária do hotel ligar num telefone de uma guia que estava muito bem recomendada no site “trip advisor”, combinaram de no dia seguinte as 9 h nos encontrarmos e veríamos o que fazer.
Dá pra ir visitar o Lago e arredores sem guia, mas voce perde muito, pois não vai nos melhores lugares, não consegue se comunicar direito com o barqueiro e também não ajuda um birmanes(a) que “rala” muito pra sobreviver.

Acertamos em cheio, conhecemos a simpaticíssima Phyu Phyu, que depois de combinar um tour completo pelo Lago para o dia seguinte por US 30 (15 do barqueiro e 15 dela, ela não é guia oficial, os oficiais custam 25 a 30) perguntou o que iríamos fazer naquele dia.
Falamos que alugaríamos umas bicicletas e iríamos passear pela vila e redondezas.
Ela perguntou se poderia ir junto, pois poderia nos levar nuns lugares legais.
 - É, mas quanto voce vai cobrar ?
E ela : - Nada eu só quero passear com voces.

Como ela não tem nem bicicleta aluguei 3 por US 1 cada e lá fomos nós.
Que sorte pois fomos em uma vilazinha próxima (onde turistas não vão) e ela nos levava dentro da casa das pessoas, nos explicava, traduzia algo que queríamos saber, etc..
Vimos “fábrica” de bolo, de tofu, de torrefação de sementes, enfim a vida real dos pobres birmaneses.




O bolo sai bem macio e gostoso, mas
depois eles fazem torrada, pois
dura mais tempo e eles acham mais gostoso.
Comer antes de torrar eles falam que faz mal pro estomago, rsrsr.


Fazendo tofu.



Tofu seco é uma delícia.



Torrando grãos.
Tem soja, amendoim, fava e semente de girassol.



No caminho de repente apareceram uns 10 caminhõezinhos, cheios de gente e, cada um com um menino de 5/6 anos todo vestido de “reizinho”.
É uma data bem importante pra eles quando a família vai apresentar o filho no mosteiro budista.
O menino fica a princípio 7 dias e se gostar continua (sim, ele decide).
É esperado que todo menino birmanes passe a temporada monástica duas vezes na sua vida, a primeira entre 5 e 15 anos e a segunda logo após os 20. 
É um orgulho pra família ter um menino no mosteiro. 
Mulheres são raras, mas existem.




Pena que não dá pra ver o menino, ele
está ali no meio de todo mundo.


Voltando à nossa guia, a Piu Piu, não é que ela fale um ingles perfeito e muito menos nós, mas nos entendemos muito bem.
No fim já estavamos até ouvindo “confidencias” da Piu Piu.
Eu chamava ela assim, pois é bem próximo do som do nome dela.
E ela não consegue falar nossos nomes de jeito nenhum, o da Cris até sai algo parecido, mas o meu nem pensar.
A simpatia dela (e também sua triste história familiar) nos contagiou.




Cris e Piu Piu, esperando o barqueiro encostar.
Saímos por esse canal, dentro da vila de Nyaungshwe e em
20 minutos chegamos ao Inle Lake.


Depois do tour pelo lago ela convidou a Cris pra uma massagem (de graça), esse é o verdadeiro “negócio” da familia dela.
Perguntamos sobre algum lugar pra lavar nossas roupas e ela disse que a irmã podia lavar (quando fomos buscar, não deixou pagarmos de jeito nenhum).
E ainda, o melhor de tudo, nos convidou pra almoçarmos na casa dela no dia seguinte. Na hora combinada a família estava nos esperando (ela teve um trabalho de última hora e não pode chegar), o pai nos recebeu (fora ela, ele é o único que fala um pouco de ingles), almoçamos, agradecemos e quando íamos embora a irmã veio e me entregou um pacotinho. 
Eu tinha comentado com ela que uma das minhas irmãs era muito simpatizante do budismo, etc..
Ela separou uma imagenzinha de Buda da casa dela que, deve ser muito antiga e deve ter seu valor e mandou a irmã me entregar.

Flávia, vai demorar... Mas eu levo.

Piu Piu, nunca mais vamos nos esquecer de voce !!




O tamanho dela é inversamente
proporcional à simpatia.


Sobre o passeio pelo Inle Lake, durou quase o dia todo.
Quanta pobreza, quanta coisa diferente, quanta curiosidade, quanta Beleza !!

Aquele povo que vive no lago (não em ilhas, é dentro do lago mesmo), é tão bem adaptado que se um dia o mundo for inundado (lembram do filme Waterworld, com Kevin Costner), pra eles não muda nada.
Até fazendas flutuantes, por exemplo com plantações de tomates, eles fazem.




Plantação de tomates no meio do
lago, tudo está boiando, com umas estacas
prendendo no fundo.



Casinha no lago, não estou
mostrando as mais simples.



Essa então era de luxo.


O que faltava de turista em Yangon, aqui tem de sobra.
Claro que para os padrões do Mianmar, mas tem muito e me faz pensar que um dia, em pouco tempo, isso tudo vai acabar.
Quer dizer, vai mudar, mas as tradições milenares vão se acabando, é o preço da modernização e da abertura para o turismo.
O que fazer ??

Por exemplo : - A pesca no lago, que até há somente 3 anos era feita com um homem só numa canoinha super leve onde ele vai de pé, remando com a perna (eu nunca tinha imaginado isso, é bem legal) e fica com as mãos livres pra enfiar um cesto grande na agua e arpoar o peixe que ficar preso.
Isso já acabou, agora eles já tem umas redes.
Mas logo na entrada do lago, ficam uma meia dúzia de coitados lá fingindo que pescam como antes só pra turistada tirar fotos (incluindo eu, besta também), que pena que dá !

Mas é assim mesmo né ? O peixe tá acabando e, principalmente os turistas estão chegando com o altíssimo poder da grana...

Não quero ser chato nem idealista ou moralista. 
Eu estou adorando isso aqui, é exatamente o tipo de viagem que gosto de fazer.
Mas as vezes dá uma tristeza...

Se eu tivesse esse poder eu juntaria todos os turistas e diria : - Pessoal, vamos embora enquanto ainda dá tempo. Ninguém mais pode vir.  Deixemos eles com sua pobreza digna.

Mas a vida real não é assim né, então vamos curtir e venham enquanto ainda é possível ver o que estamos vendo.




Pescador falso.



Pescador verdadeiro.


Nós chegamos aqui de noite e sem reserva de hotel.
Até aí tudo bem já fizemos isso muitas vezes, mas é que quando tentamos reservar algo de Yangon, não deu tava tudo cheio.
Viemos do mesmo jeito e depois de quase uma hora no “taxi” (não era um taxi oficial e ele não falava ingles, claro), tentando pedir pro motorista nos arrumar um hotel, acho que ele entendeu, deu um telefonema e nos deixou na porta do hotel.
Ele era bem mal encarado e dava umas cuspidas e tal, retrucava umas palavras que achavamos que deveria estar xingando.
Mas gentilmente nos conseguiu hotel.
Dentro do preço que queríamos.
E ainda disse (através do funcionario do hotel) que poderia procurar outro hotel no dia seguinte pois aqui só tinham vaga pra uma noite (depois conseguiram vaga).  Cordialidade, sem esperar dinheiro em troca.
Como é bom poder confiar nos outros sem nem falar a mesma língua, não é mesmo ?

Fomos também num mosteiro bem rústico conhecer um pouco da vida dos monges, esses eram muito pobres.
Quando chegamos (só nós dois), um mongezinho de uns 7 anos fez sinal que podíamos entrar, lá dentro um monge já de bastante idade fez sinal pra nos sentarmos (no chão claro, lá não tem móveis) e serviu um chá e uma banana pra cada um. Tentamos conversar, mas não deu.
Só entendi que eram 3 monges mais velhos e 21 meninos pequenos.
Todos morando numa casona bem velha e mal cuidada.
Alí acredito que os meninos aprendem a respeitar uns aos outros, respeitar o Budismo e seus ensinamentos e ter decencia.
Precisa mais que isso ?




O mosteiro.



É praticamente um ambiente só, enorme.
Onde os meninos aprendem, rezam, comem, brincam e dormem.


Mais fotos :



Teatro de marionetes (US 3/pessoa).
No passado era uma tradicional diversão dos birmaneses...



... agora é só pra turistas. O show era horrível.
Fraquíssimo, deu até dó do "artista".



Olha o estilo da remada.
Técnica e equilíbrio.


Fabricação de tecidos no Lago Inle, teares
manuais, como antigamente.
O salário é por volta de US 70 dolares por mes.



Em que ano estamos mesmo ?


1960 ?


Muito boa essa cerva.


Inle Lake, paisagens...



... pra fotógrafo nenhum...



... botar defeito.


Veneza - Itália ?



Não, Nyaungshwe - Mianmar !


Ficamos mais tres dias só pedalando por perto e curtindo a agradável vilazinha.
Eu ficaria muito mais tempo. 
Mas agora rumo a Bagan e seus milhares de templos de mais de 800 anos.



4 comentários:

  1. Olá, Rodrigo.
    Eu e meu marido viajamos 30 dias pela Ásia, entre Tailândia, Laos e Mianmar.
    Por sorte, li o post dias antes de viajar e não tivemos dúvidas em ligar para a Phyu Phyu.
    Estou aqui para agradecer à vocês. Que dia incrível tivemos! Foi emocionante. É difícil explicar, mas o birmanes conserva uma ingenuidade e generosidade que ainda nao tínhamos provado.
    Desejamos uma excelente viagem, e continuem nos contando um pouquinho desse mundão :)

    Abraços,
    Rebeka e João

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    1. Oi Rebeka,
      fico contente em ter ajudado.
      Somos uns "sortudos" por termos essas oportunidades, não ?
      Ler deve dar uma boa noção de como são as coisas, mas ir conhecer ao vivo com voces e nós, é perfeito.
      Agora estamos no Laos, não são como os birmaneses, mas são bem melhores (decentes) do que a maioria dos povos que conhecemos. Voces devem ter reparado.
      Abraços a voce e João.

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  2. ola Rodrigo,
    caí aqui no teu post por acaso, e sem dúvidas foi um achado. Estou indo para Mianmar em dezembro/janeiro e gostaria muito de ter o contato da guia em Inle Lake, a Phyu Phyu. Vc pode me passar?
    Abs e muito obrigada.

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    1. Oi. Me desculpe, procurei o contato dela , mas não consigo encontrar. Talvez pelo nome lá no seu hotel eles saibam quem é. Me lembro que a casa dela, junto com o pai (um professor de inglês aposentado ) ficava na rua principal da cidade próxima ao rio. Agora já se passaram dois anos e nem sei se ela ainda é guia. Lembro dela comentar que por não ser guia oficial estava com medo de proibirem o trabalho dela. ....Bom, desejo a vc uma ótima viagem. O Mianmar está na nossa memória como o país com as melhores pessoas que já conhecemos. Abs

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